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Encontre o seu mundo paralelo.

Postado por Mayara Silva sexta-feira, 27 de maio de 2011



Construir o próprio mundo e viver nele
é uma das fugas mais fascinantes
Fui tomada de um medo covarde de me aproximar, perguntar se estava tudo bem, e se eu poderia ajudar. O homem estava parado feito monumento histórico bem em frente de um grupo histérico e mal intencionado. Talvez estivesse enxergando algo que me fugisse aos olhos. Ou mesmo que fugisse aos olhos de todos nós. Suas pupilas dilatadas se mantinham sempre na mesma direção, sem desviar. O grupo que fazia o favor de ser o contexto daquela cena, ria compulsivamente, como se rir da situação frágil em que o sujeito se encontrava, pudesse mudar alguma coisa. Comecei a cogitar algumas possibilidades para entender como a paralisação do homem havia se transformado naquele inusitado show pitoresco. As vozes se abafaram em volta de mim, e tentei me manter surda aos ruídos estridentes e inúteis da cidade. Tentei entrar no mundo dele, e mergulhar naqueles olhos sofredores que teimavam em não revelar quem ele era realmente. Primeiro tentei pensar no que me faz entrar em choque. Para ao menos estabelecer uma comparação entre aquela vida - que parecia tão atormentada -, e a minha, de jovem estudante curiosa e atenta. “O que me faz ter raiva e descontentamento com a sociedade é ver a futilidade sendo ensinada em casa, junto ao consumismo e ao desperdício aos recursos naturais. O que me faz mal de verdade é ver gente cada vez mais cômoda com a situação do mundo, achando que não adianta fazer mais nada para tentar resolver. O que me provoca arrepios é a falta de amor ao próximo, a falta de respeito entre opiniões distintas, e a falta de humildade.” Sim, acabo de citar eu mesma em meus pensamentos. Entrei em labirintos desconhecidos do meu ser, busquei traços de minha personalidade, e analisei cada vivência, tentando chegar à construção do meu caráter. Mas nada em que eu me comparava parecia chegar aos pés daquele mendigo sujo, que tinha o olhar mais puro que o de uma criança. Assim como qualquer ser vivo, ele via a vida passar diante de seu nariz, carregando com ela o pesado fardo de preconceito e desigualdade. Mas o que ele via diante de seus olhos negros não era aquilo que chamamos de câncer da sociedade. Ele não estava chocado. Parece que conseguia ver além do mundo em que vivemos, como se um lugar paralelo ao nosso tivesse se aberto apenas para ele. E que a qualquer momento o homem daria um passo a frente e desapareceria para sempre do mundo triste e cruel em que caminhava todos os dias. Talvez se cada um de nós pudesse encontrar o seu mundo para nele encontrar a verdadeira razão de viver, o mundo “real” se tornaria um fardo um pouco menor de carregar. Aquele homem encontrou o seu, e com ele parece ter compreendido toda a razão de uma vida.

Obs.: Fato real. Assim como todos os pensamentos que povoaram minha mente no acontecimento narrado acima.

1 comentários:

Ciba Silva disse...

Muitas vezes tenho os mesmos sentimentos...muito bom mana!!! Beijos!

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