O rosto forte da autora que me inspira |
Quando sinto que
o meu ciclo de pensamentos não flui com velocidade e coerência, recorro a ela.
Não se pode apenas ler Clarice Lispector. Nem se consegue compreender suas
metáforas, idéias e propostas apenas separando trechos de seus livros e
passando os olhos em cima de seus escritos. Clarice é pra sentir. E ela
compreende a alma tão a fundo que chega a doer. Quando enfim li a obra “A hora
da estrela” (LISPECTOR, Clarice. Editora Rocco, 1977), pude notar o peso do
livro que carregava nas mãos. Uma história densa, humanizada, que retrata o
ontem e o hoje. Apaixonei-me pela torta trajetória de Macabéa, desde a primeira
linha. Então, resolvi ler “Perto do coração selvagem” (LISPECTOR, Clarice.
Editora Rocco, 1943). As palavras caminham naquelas páginas, e aquela história
dá voltas na linha do tempo e da compreensão, a ponto de embaralhar a mente de
leitores desavisados. Ela me inspira todos os dias, e a cada obra que descubro, julgo fantástica,
brilhante, e assim acabo dando esse título a todas que leio. Mas a ucraniana
erradicada no Brasil conseguiu me surpreender com a obra “Uma aprendizagem ou o
livro dos prazeres” (LISPECTOR, Clarice. Editora Rocco, 1969). A história narra
a história da imperfeita Lóri , uma jovem que encontra sua personalidade ao se
apaixonar por um professor de filosofia, que só a aceita depois que ela
compreende quem realmente é, e que o mundo não gira em torno de suas próprias
vontades. O desenrolar de suas histórias soa extremamente simples, mas possuem
um peso e uma grandeza reservados apenas para os gênios. Atualmente estou lendo “Felicidade Clandestina” (LISPECTOR, Clarice. Editora
Rocco, 1971). São vários contos reunidos, sobre diversos assuntos. Quero dizer,
não são contos, porque segundo a autora, seus livros não se encaixam em
gêneros, porque eles não interessam. Não interessam mesmo, Clarice. Você está
acima deles, por isso não ousaria jamais a enquadrar.
“Eu não sou
louco por solidariedade com os milhares de nós que, para construir o possível,
também sacrificaram a verdade que seria uma loucura.”
(Menino a
bico de pena - Felicidade Clandestina)
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